segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Quero te conhecer de novo, nem que seja seu olhar.

[Música indicada para a leitura: Renato Russo - 1º de julho]


Eu aposto que você nem imagina que eu fico olhando os carros na rua. Que todas as vezes que paro no farol fico tentando ver por detrás dos vidros quem dirige os carros ao meu lado. Que sempre que passo onde passávamos juntos eu fecho os olhos, imagino você me olhando de longe e volto à realidade querendo te ver ali, parado. O que eu temo acontece: você nunca está lá.

Eu te procuro. Poderia ser igual aos filmes: a gente se encontra um dia por acaso e vai tomar um drink. Alí relembraríamos fatos do passado, coisas que aconteceram durante esses anos todos que estivemos distantes. Depois de longas conversas eu olharia no relógio e diria que "agora preciso ir, já está tarde". E você ofereceria companhia até em casa. Iríamos conversando mais aquele caminho todo falando de tudo, nos conhecendo novamente. Um abraço apertado como se nunca fôssemos embora, e outro adeus.

Ou se você preferir, passe por mim. Me olhe nos olhos. Olhe meu cabelo como cresceu desde a última vez, olhe minhas roupas, meu corpo que não é mais de criança, minhas unhas crescidas e já não mais comidas e decuidadas. Talvez você me veja até com um salto fino e um vestido vermelho, batom nos lábios, lápis nos olhos. Quem sabe não nos esbarremos de repente em qualquer rua, em qualquer calçada. Talvez você não me reconheça, pode até olhar e não reparar. Mas sei que se eu conseguir te olhar nos olhos você pode até chorar.

Só quero conversar, conhecer, saber de você tudo o que não fui capaz de saber em tanto tempo ao seu lado. Conhecer o amigo que poderia ter tido há um tempo atrás e joguei a chance pelos ares para viver um romance infantil que logo acabou.

Queria poder, sem querer, olhar e encontrar aquele tempo de novo.
Não havia pensado em nada ainda. Os anos, as chuvas, o vento... Tudo havia te levado para longe do meu pensamento, mas então por quê? Por que agora, de repente? Músicas, lugares, palavras, roupas, perfumes, manias, amigos, olhares, gestos, vontades...
Todo você me invade na rua, no carro, no ônibus, no metrô, em casa, na TV, no rádio. Você está agora exatamente no lugar para onde meus olhos forem.

Logo passa, logo passa!
É só não levar a sério, porque logo passa.

E a falta que sinto de você agora é só reflexo das suas qualidades que ele não tem e acaba passando porque ele não tem seus defeitos.
E não tem suas manias que me incomodavam, ele não tem tanta indiferença pelo que eu gosto, ele não se esquece de me deixar livre, ele não se esquece de me falar a verdade, ele não se esquece... não se esquece de ser ele mesmo.

E sabe que a culpa não é sua? Só porque dói não vou jogar a culpa em você.
Eu disse adeus e o adeus ficou grudado em mim quieto, de luto. Agora ele bate asas e causa toda essa confusão dentro de mim, mas logo tudo volta ao seu lugar, por isso não vou tirar tudo do lugar outra vez.

Então vai, dorme sua noite, ame sua mulher como nunca me amou. Me veja como um personagem de um livro, que você nunca conhecerá e nem mesmo o deseja. Ler-me é melhor! Devora aquilo que chama personagem, que chama eu.
Saiba tudo e o amor que sentir exala com tua mulher. No poente, na cama, na briga, no sorriso, nos presentes, em tudo. Gaste, não guarde. Não se torne escravo da ilusão de um amor tão impossível. São apenas palavras, não há mais que personagem.

Eu nada sou além de uma personagem. Então não pense você que eu penso em você.
Nada sou além de uma personagem. E você? Um leitor faminto buscando um amor perdido.

Mas pode ficar tranquilo: logo passa...

"Um santeiro milagreiro prevê a dor de terceiros e diz que a vida é feita de ilusão!"

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