sábado, 18 de abril de 2009

A rosa.



Estavam sentados à mesa de um restaurante em Sakae Ward, no Japão, esperando que o garçon trouxesse a conta.
Após as taças de vinho e Martini, ela não sentia mais frio, mas ele insistia que ela usasse seu casaco. E seu sorriso era lento e seus olhares arrastados. Ele, enquanto olhava a boca de sorrisos provocantes, sentia que seu sangue começava a ferver. Vagarosamente ia acompanhando com os olhos cada linha um maravilhoso corpo dentro de um vestido vermelho sangue. Enquanto as mãos se entrelaçavam, os olhares iam tornando-se cada vez mais profundos e dizendo aquilo que palavra alguma podia dizer.
Minutos atrás havia sido feito o pedido de casamento, e os olhos inocentes e apaixonados daquele momento, agora são olhos sensuais e intimadores. O amor não diminuiu, mas há um momento da noite em que o amor é corrompido pela luxúria e traz o sabor adocicado de amar uma alma e sentir um corpo.
A conta chegou. Ambos levantaram-se e caminharam na direção da porta. Ela confundia os passos, ele a segurava pela cintura e ria. E no som desse sorriso ecoava a paixão adolescente que mantiveram por todos aqueles anos.
Entraram no carro e foram em direção à casa dele.
Lá sentiram todos os calafrios do mundo, todos os delírios febris que um pouco de Martini, vinho e romance podem causar. As estrelas os buscaram, fizeram uma viagem pelo espaço e conheceram cada estrela e cada planeta. Quando voltaram, todo o brilho das estrelas estava em seus olhos e a fadiga dominava cada espasmo de amor em seus corpos. Eles só puderam dizer um ao outro:
- Eu te amo!
E sorriram. Sorriram como se naquele sorriso existissem todos os planos, todos os sonhos... E se amaram e se abraçaram, aceitando e vivendo cada segundo daquela noite inesquecível e infinita. E custava a deixar as pálpebras cansadas e ébrias caírem, não queiriam perder uma inspiração daquele momento, nem um olhar, nem um sorriso, só queriam estar ali, juntos, abraçados, vivos. E os sonhos de ter sido gerado um novo fruto de amor para o mundo se prenderam aos seus pensamentos.
Dormiram, com todos os destinos em seus corações. E ali, abraçados se aqueceram, descansaram todos os despudores do amor e todas as ofegantes deusas da paixão.
Na manhã seguinte, ao acordar, ela olha para o lado e só vê um espaço vazio. Os lençóis amassados evidenciam que nada foi um sonho e um alívio percorre sua pele tomando o espaço do arrpeio assustado que acabara de ter.
Ao levantar-se, sai pela casa em busca de seu amante. Chega à cozinha e já está pronto um suco com algumas torradas e muitas frutas. Ela ainda sente o perfume de seu amado, mas seus olhos não são capazes de encontrá-lo. Olha para a sala e vê uma sombra, logo o reconhece e vai ao seu encontro já com os braços abertos. Quando chega em suas costas pronta para abraçá-lo, percebe que está paralizado vendo algo na televisão que ela, até então, não havia percebido que estava ligada.
Assutada ela o chamou algumas vezes e não obteve resposta, logo foi olhar o que havia na tela retangular no centro da sala e viu uma rosa. Uma rosa em preto e branco que abria cada vez mais suas pétalas em um conjunto traçoeiro e ritmado ao som de alertas vermelhos por todo o mundo.
Ela pode sentir nos braços alguma dor repentina, uma onda quente que invade cada metro quadrado da casa. E sentiu sede e sentiu medo.
O mundo acabou com a Segunda Grande Guerra.
A noite havia sido perfeita e daqui para frente, para ela, só restaria a lembrança em cada passo, da guerra que acabou com seu mundo.




"Pensem nas crianças/mudas, telepáticas./Pensem nas meninas/cegas inexatas./Pensem nas mulheres/rosas alteradas./Pensem nas feridas/como rosas cálidas./Mas, oh, não se esqueçam/da rosa da rosa:/da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária/a rosa radioativa,/estúpida e inválida./A rosa com cirrose,/a anti-rosa atômica:/sem cor, sem perfume/sem rosa, sem nada."

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